9 de out. de 2009

Incríveis relatos de um escritor por acaso


      Luiz Ruffato se reuniu com estudantes na Biblioteca Municipal.
A mãe, lavadeira, era analfabeta; o pai, semianalfabeto, foi pipoqueiro em Cataguases (MG). “O 2º pipoqueiro da cidade, na verdade, pois trabalhava no ponto da igreja, enquanto o 1º pipoqueiro ocupava o ponto do cinema, onde o movimento era muito maior.”
Nunca se interessou por livros, até ser empurrado, graças à sua extrema timidez, para dentro da biblioteca da escola pública freqüentada pelas famílias ricas da cidade — onde a contragosto foi estudar, por conta de uma vaga que lhe arrumou o diretor do colégio, que o conheceu quando ajudava o pai a vender pipoca: “De tanto me ver ali na hora do recreio, sem fazer nada — na verdade, me escondendo dos outros estudantes —, a bibliotecária passou a me dar livros para ler, os quais, em casa, meu pai me obrigava a ler porque achava que isso era o certo.”
Balconista de um bar; operário de uma tecelagem; formado em Tornearia Mecânica pelo Senai e, depois, em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, sem ao menos saber do que se tratava o curso. O que não o impediu de chegar a secretário de redação de um dos maiores jornais do país, editado em São Paulo.
Foi e tem sido assim a incrível história de vida de Luiz Ruffato, escritor profissional, autor de onze livros, alguns editados em Itália, França e Portugal, entre outros países; ganhador de importantes prêmios literários e um dos pouquíssimos autores brasileiros dedicados a retratar a chamada classe trabalhadora, “as pessoas que não têm onde cair mortas”, como ele as define.
Com esses relatos sinceros, bem-humorados às vezes, emocionado em outros momentos — especialmente quando fala do orgulho que tem “pelo orgulho que meus pais teriam se tivessem vivido para saber que me transformei num escritor e vivo de escrever livros” —, Luiz Ruffato conquistou os estudantes que, na tarde desta segunda-feira, dia 19, lotaram o auditório da Biblioteca Municipal de Cubatão.
Ele esteve na cidade participando do programa “Viagem Literária”, mantido pela Secretaria de Estado de Cultura, destinado a aproximar escritores consagrados do público jovem, visando estimular o prazer da leitura. Na Biblioteca Municipal cubatense (Avenida 9 de Abril, 1.977) podem ser encontradas algumas de suas obras: “Mamma, Sono Tanto Felice”, “Vista Parcial da Noite”, “O Livro das Impossibilidades” e o “Mundo Inimigo”, por exemplo.
Em 2008, quando foi lançado, esse programa se estendeu a 40 municípios paulistas, atraindo milhares de pessoas às bibliotecas públicas. Em 2009, 55 cidades estão sendo visitadas. Participam da edição deste ano, além de Ruffato, os escritores Altair Martins, Antonio Cícero, Flávio Carneiro, Francisco Alvim, Ivan Ângelo, Ivan Sant’Anna, Márcia Tiburi, Maria Esther Maciel, Paulo Wainberg e Ronaldo Correia de Brito.
Texto: Oswaldo de Mello - MTb 10.572 - Foto: Dilson Mato Grosso



Nenhum comentário:

Postar um comentário