Com temas que foram da crônica esportiva à lírica amorosa de Nelson Rodrigues, o escritor atraiu muita gente à Biblioteca Municipal na última sexta-feira (22/10)
Xico Sá é um daqueles artistas que tem espírito livre. Elegeu a crônica esportiva como seu ganha-pão, mas já há algum tempo descobriu que a lírica dos outros assuntos que trata de maneira tão sensível é o seu verdadeiro chamado. Na última sexta-feira (22/10) ele esteve na Biblioteca Municipal de Cubatão participando do Projeto Viagem Literária e arrebanhou uma multidão à sala de leitura: escritores, jornalistas, artistas de vários segmentos e outras pessoas interessadas em uma boa conversa.
O jornalista foi convidado para falar de Nelson Rodrigues e citou algumas frases do autor como provocação inicial, uma saraivada de pensamentos de Nelson: Só os profetas enxergam o óbvio; O biquini é uma nudez maior do que a nudez; Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro; Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos. Para Xico Sá, poucos brasileiros conseguiram escrever com essa paixão desmedida sobre assuntos que beiram o improvável e até mesmo o proibido. Nelson Rodrigues trouxe à tona os personagens suburbanos – raríssimos na literatura da época, centrada nos salões burgueses cariocas – e falou, sobretudo, acerca dos monstros que nós guardamos dentro da gente e que às vezes, vencem (...).
Todos os temas presentes na obra rodriguiana foram assunto do encontro com Xico Sá. A submissão feminina, o amor ao futebol, as “canalhices” mostradas tão cruamente por Nelson e o clima geral da obra que contrastava de maneira gritante com a vida pessoal do autor. “Achava uma monstruosidade um homem escrever daquele jeito, falar sobre traição, nudez, o fanatismo no futebol e beber leite! Acredito que hoje em dia Nelson Rodrigues faria o mesmo sucesso por causa da sua crueza”, considerou.
Esse bate-papo foi um dos encontros que teve maior participação popular dentro do Viagem Literária. Muita gente fez perguntas sobre literatura e principalmente futebol (Xico Sá é santista, apaixonado pelo esporte e comentarista do cartão Verde da TV Cultura e do programa Notícias MTV) e outros assuntos da atualidade. Sobre a paixão nacional, declarou que o fanatismo futebolístico sempre o interessa e que eternamente será tema de seus textos.
O jornalista já trabalhou na grande imprensa do país, sendo reconhecido por suas reportagens, ganhando os Prêmios Esso, Folha de São Paulo e Prêmio Abril. Sua atuação na literatura teve início em 2003 com a publicação de “Modos de macho & modinhas de fêmea”, seguida por outras quatro publicações. Foi a obra de Graciliano Ramos, “Vidas Secas”, que despertou Xico Sá para a vida de escritor. Segundo ele, apesar de ter nascido em uma família pobre, iletrada, no interior do Ceará, foi “salvo” pela biblioteca pública da escola em que estudava.
Indo na contramão do que dizem muitos autores, Xico Sá atribui o aumento da venda de seus livros por conta da visibilidade que obteve por meio da internet, participando como colaborador e cronista em grandes sites. Outro diferencial na carreira do jornalista é o grande número de leitoras que o acompanham, fruto do tempo em que trabalhou como colunista em revistas femininas. Totalmente a favor da democratização da informação, Xico Sá disponibiliza seus livros na internet para quem quiser fazer o donwload.
A “viagem” continua mês que vem - O Secretário Municipal de Cultura, Welington Borges, destacou o sucesso que tem sido o Projeto que somente este ano trouxe nomes como Alice Ruiz e João Carlos Marinho. “Os bate-papos com os escritores, forte do Projeto, têm trazido centenas de pessoas à Biblioteca. Isso é extraordinário”, afirmou Welington. Uma das exigências para que o “Viagem” aconteça, é que seja realizado em bibliotecas públicas, se tornando uma oportunidade para que as pessoas freqüentem o local, adquirindo conhecimento e voltando a estreitar esse laço, perdido com o tempo. Em 22 de novembro, o projeto continua e traz a Oficina de Criação Literária com o escritor João Carrascoza.
Texto: Morgana Monteiro
Foto: Ana Borges
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