Aos fundos da Biblioteca Municipal de Cubatão Prof. João Rangel Simões - que recebe esse nome porque um dos seus ilustres funcionários foi justamente este professor de Literatura bem conhecido da cidade, onde até seu acervo pessoal de livros consta na nossa Biblioteca, como acervo permanente - temos o Arquivo Histórico com o armazenamento, conservação e catalogação de muitas pesquisas, teses, fotos, jornais, documentos arquivados para preservação da memória cultural da nossa cidade. Sempre limpo e impecável na medida do possível, todo o capricho e cuidado provindos por dois funcionários apenas, João Baptista de Oliveira Neto e Francisco Rodrigues Torres, este último, que nos agracia com o texto abaixo onde esboça e comenta sobre livros do escritor-poeta-jornalista cubatense Afonso Schmidt, em especial o livro SALTIMBANCOS que no post anterior a contadora de estórias Nalva Leal ensina passo à passo a dobradura do palhacinho, temática circo.
Ler Afonso Schmidt é se apropriar da história de Cubatão. É saber e compreender através da visão desse doce escritor, o quão importante ele ainda é para nossa cidade e o quanto nossa cidade foi um dia tão importante para ele. Memória faz História! Na Biblioteca temos como fornecer a leitura de livros de Afonso Schmidt apenas no local, por se tratarem de relíquias e o cuidado com manuseio. Agora caso haja interesse do leitor buscar exemplares, na internet existem sites que vendem por preços super em conta podendo assim adquirir o seu relicário.
Até mais,
Dani Da Guarda
Chefe de Divisão de Biblioteca e Arquivo Histórico
SCHMIDT, O SALTIMBANCO
O
escritor Afonso Schmidt (1890-1964) produziu algumas obras que se
tornaram emblemáticas ao abordar eventos históricos,
autobiográficos ou lendas entre outros temas. A fluidez da
escrita pode ser percebida em obras como “Menino Felipe”, “A
locomotiva”, “A sombra de Júlio Frank” ou a “A marcha”
correspondem alguns exemplos de sua vasta seara. No entanto, há
um livro não muito difundido, provavelmente pela ausência
de reimpressões, intitulado “Saltimbancos”, publicado pela
Editora Saraiva em 1950 e que demonstra a capacidade de Schmidt em
descrever os tipos humanos de forma arguta com precisão em
conectar personagens, momento histórico e o ambiente físico.
O
título da obra se refere aos artistas que se apresentam em
circos, ruas, praças, cinemas e teatros menores, ou seja, os
que tornam a arte acessível àqueles que possuem poucos
recursos. Ambientado nas primeiras décadas do século
XX, os atores, músicos, equilibristas, engolidores de fogo,
bailarinos, trapezistas, dentre outros, se esforçam em manter
viva sua arte. O escritor escolheu abordar a vida do protagonista
Moacir Marques, porém mais conhecido como “Aladino, o
Mágico”. A partir desse personagem Afonso Schmidt desvenda
os anseios, as vivências, as dificuldades, o dia a dia, os
perrengues que acompanham os profissionais da arte. Em determinado
momento da narrativa, o autor apresenta situações de
desemprego entre os artistas. Na segunda parte do livro, há
citação do surgimento dos filmes falados que,
consequentemente, produziu o desemprego de músicos, cantores,
declamadores. A tecnologia substituía o elemento humano.
Apesar das dificuldades da profissão, acrescidas pelo
alcoolismo, o protagonista desvenda os bastidores da profissão
de forma singular em suas andanças pela capital e litoral de
São Paulo. Aladino, em várias oportunidades, se vê
desempregado, sem dinheiro, sem fama, mas, ainda assim, com o olhar
brilhando de esperança.
Nesse
livro, Afonso Schmidt se esmera em retratar os erroneamente
denominados “artistas menores”. Ao abordar tais personagens e,
principalmente, ao demonstrar suas virtudes e fraquezas, o autor
homenageia os que vivem e morrem exercendo sua profissão.
Nessa homenagem há, além do reconhecimento, a admiração
irrestrita àqueles que tornam o mundo mais habitável
por defenderem a Arte.
Francisco
Torres
Arquivo
Histórico de Cubatão
Junho
de 2020
Fonte:
SCHMIDT, Afonso. Saltimbancos. São Paulo: Saraiva, 1950. 229
p.
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