28 de out. de 2009

Semana do Livro

Paulo Mota: um escritor 40 anos depois de já ser um escritor
Em um bate-papo descontraído, o jornalista confessou que levou muito tempo para admitir que era escritor e acatar essa outra faceta, além do jornalismo. A palestra fez parte da programação da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca.
          Paulo Mota não optou pela literatura, foi ela quem o escolheu. Sempre escreveu muito, sempre gostou de estar bem perto das palavras. Foi assim que o jornalista deu início ao bate-papo na Biblioteca Central nesta terça-feira (27/10). A programação fez parte da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca. O convite surgiu como um desafio: falar sobre o que representa o ato de escrever do ponto de vista pessoal. E foram muitas idéias ricamente compartilhadas.
          A trajetória literária de Paulo Mota começou quando este era ainda menino. A professora exigiu um trabalho sobre a escravatura e ele fez um poema intitulado “Mãe preta”. Ganhou prêmio, e a partir daí nunca mais parou. Escolheu como profissão o jornalismo, o que permitiu que vivesse da escrita, um operário das letras. E ainda assim, continuou a criar textos, contos, histórias que surgiam daquilo que ele percebia ao seu redor. “Levei 40 anos para admitir que sou um escritor. E me considero um escritor não porque tenho livros publicados, mas porque escrevo, sempre escrevi, e coloco as minhas emoções nessas linhas”, confessa.
          Para o jornalista, escrever é uma “sina”, é quase visceral. Segundo Mota, o escritor não o faz para ser lido, mas porque precisa escrever, isso explica por que existem mais autores inéditos do que publicados: “Toda vez que você escreve, se livra um pouco de seus demônios. Você exorciza e se livra daquilo. Mas o escritor faz isso com tanta sensibilidade e profundidade que o objeto que lhe fazia mal acaba se tornando um conto, uma poesia”, diz.
          Figura extremamente inteligente, Paulo Mota afirma que quase ninguém admite a compulsão pela literatura e pelo ato de escrever. Relatou a experiência que alguns autores tiveram como, por exemplo, o poeta francês Arthur Rimbaud que largou a literatura aos 20 anos de idade e foi até traficante de escravos para se livrar da “maldição” de escrever. Mas para Mota, não adianta, quem escreve tem mesmo um destino preparado, de continuar caminhando, cumprindo, escrevendo e lendo. “Sou compulsivo por leitura. Leio dois, três livros ao mesmo tempo. Quem não lê, não escreve”, afirma.
          O encontro ultrapassou a hora prevista e respondendo a uma das perguntas da platéia, o autor falou sobre a importância da biblioteca. Para ele, são verdadeiros depositários da cultura, de outras épocas, de locais diferentes, tudo junto ao mesmo tempo. “O texto escrito nunca vai perder a importância”, afirmou, pois nada pode substituir aquilo que foi para as páginas de um livro. Até mesmo um filme, um documentário, uma novela precisam ser escritos por alguém.
          E se a única maneira de um homem se tornar imortal é através das obras, Paulo Mota já garantiu sua vaguinha na eternidade: teve um de seus contos publicados no livro “Beco do crime”. O autor tem ainda 24 histórias policiais ainda não publicadas. Seu mais novo projeto recebeu o título: “Um minuto, por favor”. São pequenos contos, profundamente condensados em que o leitor não demora mais de um minuto pra ler. Os textos estão disponíveis no blog www.microcontos.blogspot.com . A Secretária de Cultura e Turismo, Marilda Canelas, lembrou que a cada bate-papo, o público é acrescentado: “Essas conversas literárias são tão interessantes que a gente entra aqui de um jeito e sai de outro”, afirmou.
          O criminoso de volta ao local do crime – o cubatense Paulo Mota relembrou o primeiro livro a que teve acesso. Há 40 anos morava na Vila Nova e a professora, Dona Marlene, apresentava o mundo das letras à classe, abastecendo os alunos com livros. Um belo dia, ela emprestou ao menino Paulo o título “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato. Ao terminar a leitura, ele até tentou devolver o livro à professora que havia retirado a publicação da Biblioteca Municipal, mas esta havia saído de licença-maternidade. “Não devolvi o livro, até hoje o exemplar está comigo”, arrematou o escritor. A platéia sorriu e perdoou o criminoso que voltou, sem nenhuma ansiedade, ao local do crime que cometeu sem saber!
Texto: Morgana Monteiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário