8 de nov. de 2010

Danado de Bom aproxima cubatenses da Literatura de Cordel

Além de entretenimento, festival leva cultura e reflexão
O festival Danado de Bom foi muito mais do que entretenimento. Além das atrações musicais com grandes nomes da música popular, o festival promoveu também a Literatura de Cordel e a reflexão sobre a identidade nordestina da cidade de Cubatão na sexta-feira (05), com palestra na Biblioteca Municipal com o tema “Literatura de Cordel – Tradição e Modernidade”, com o escritor Moreira de Acopiara (Ceará) e o professor doutor em literatura de cordel Aderaldo Luciano, nascido no município de Areia, Paraíba.
Ambos elogiaram a organização do evento por não esquecer a parte cultural. "Não é só um evento festivo, mas uma maneira de fazer a população de Cubatão reencontrar sua identidade, já que quase 70% da população da cidade é de nordestinos ou descendentes. É importantíssimo proporcionar o reencontro dos nordestinos com as suas raízes. Não só com a música, mas também com a comida e a literatura", disse o professor.
Em relação ao cordel, Aderaldo Luciano rechaça as interpretações de que é uma subliteratura, “uma coisa menor”. Para ele, o cordel é um gênero poético como qualquer outro e se define pelo uso de sextilhas (estrofes com seis versos), ainda que haja variações na forma. “Sendo o cordel poesia, não tem pátria, nem classe social”, o que lhe garante a universalidade de literatura.
Ele conta que há três linhas que contam a origem do gênero. A primeira remete a uma matriz portuguesa; a segunda credita como fonte os repentistas, mas o professor fica com a terceira que, não excluindo as influências anteriores, afirma ter o cordel um desenvolvimento próprio. “Ele foi pensado, foi bolado. O cordel chegou a sua forma clássica quando, no final do século XIX, Leandro Gomes de Barros, percebeu que ganharia mais dinheiro vendendo suas poesias impressas que declamando. Assim, ele optou pelo formato ofício dividido em 4 partes, o que dá no livrinho de cordel com 32 estrofes, que pode ser aumentado com a incorporação de mais livrinhos, aumentando assim a história. A forma do cordel foi cristalizada na gráfica”. O gênero é tão parte da modernidade que tem até best seller, “O pavão misterioso”, com mais de 23 milhões de exemplares vendidos em várias edições.
Ele também alerta para não confundir o cordel com outros gêneros. “Em muitos lugares se acha que toda poesia feita no Nordeste é cordel, mas não. Existem diferenças formais entre o cordel, que pode ser até de fundo erudito, o poema matuto, que não tem forma fixa e é caracterizado pela imitação dos sons falados, e a cantoria, que são versos feitos para serem cantados”. Para ele, Patativa do Assaré foi mestre nos três gêneros.
Trajetória – O interesse de Moreira de Acopiara pelo cordel surgiu graças a sua mãe que lia cordéis para ele, que pegou gosto pela literatura. "Era a maior festa quando meu pai ou minha mãe chegavam com um cordel novo", disse o escritor.
Já com 16 anos desejava ser igual a Patativa do Assaré. Datilografou dois poemas e mostrou para ele que disse: "seus versos são muito ruins". Apesar da crítica, Patativa explicou como deveria ser, o que era necessário mudar e complementou: "Para a sua idade você está acima da média, se continuar lendo e estudando o cordel em 20 anos será um bom escritor". Atualmente, Moreira de Acopiara possui mais de 100 cordéis escritos e 10 livros publicados. Após a palestra, ele ainda promoveu uma oficina de cordel para os cubatenses.
O trabalho de Acopiara pode ser acompanhado no site http://www.moreiradeacopiara.hpg.com.br/; já os textos do professor Aderaldo Luciano podem ser lidos no blog http://adercego.blogsome.com/.
O Cordel – De conteúdo muito diverso, o cordel abrange inúmeras modalidades e já comemorou cem anos no Brasil. O folheto é a forma tradicional de impressão com capas geralmente feitas em xilogravura.
Patativa do Assaré – Nome artístico de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré. Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina. Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto. Publicou os livros “Inspiração Nordestina” (1956), “Cantos de Patativa” (1967), “Cante Lá que Eu Canto Cá” (1978), “Ispinho e Fulô”, (1988) e “Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré” (2000), entre outros. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Morreu em 2002.
Texto: Carla Martuscelli e Alessandro Atanes
Foto: Rodrigo Fernandes

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