18 de nov. de 2011

Cubatão recebeu nesta sexta a primeira quilombola a cursar uma universidade

Nesta sexta-feira, dia 18, às vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra — o 20 de novembro, que homenageia Zumbi dos Palmares, morto nesta data, em 1695 —, Cubatão recebeu a visita da escritora Meire Lucia Rodrigues Cazumbá, a primeira e por enquanto única pessoa originária de um quilombo a conquistar diploma universitário — é advogada formada pela Universidade Mackenzie, de São Paulo, com especialização em Direito do Trabalho.

Recebida no auditório da Biblioteca Municipal, Meire falou para um público de diferentes idades, detendo-se na primeira parte a contar para as crianças presentes algumas passagens de seu livro “Histórias da Cazumbinha” — preparado em conjunto com a ilustradora Marie Ange Bordas, numa edição da Companhia das Letras lançada em dezembro de 2010 — e, ao final, respondendo a perguntas dos adultos.

A partir dos relatos autobiográficos do cotidiano da menina Cazumbinha, Meire traça um painel de vida das crianças das comunidades quilombolas de todo o Brasil, que em pouco ou nada diferem daquelas que habitam as demais regiões carentes do país. A única diferença, na verdade, é que ao contrário do que ocorre em outras regiões não quilombolas, a pobreza continua a dominar as áreas habitadas por esses descententes de escravos, onde, por exemplo, somente agora começam a ser construídas escolas.

O seu local de origem, por exemplo — Quilombo Rio das Rãs, um dos mais antigos, que hoje possui 900 famílias e está localizado a 900 quilômetros de Salvador (BA), no município de Bom Jesus da Lapa —, mesmo tendo sido o primeiro a conquistar o reconhecimento de suas terras na Justiça, após uma luta que se arrastou por vinte anos, apenas em 2008 ganhou uma unidade de ensino, apesar da garantia dos direitos dos habitantes dos quilombos datar da Constituição de 1988.

“A cultura brasileira está permeada de tradições negras, embora os meios de comunicação em geral se recusem a mostrar este fato”, lamenta ela, acreditando que isso acaba se refletindo negativamente sobre a construção da nacionalidade. É por isso que ela defende, por exemplo, a implementação nas escolas públicas, como manda a lei, do ensino da história dos negros no Brasil, e também a importância da política de cotas para os descententes de negros nas universidades. Meire Cazumbá não se orgulha de ser exceção.
Texto: Oswaldo de Mello

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