30 de ago. de 2012

Família de Afonso Schmidt doa baú de raridades para o Arquivo Municipal

Doação da família do escritor amplia acervo de pesquisa sobre Schmidt e suas atividades intelectuais
Desde o início de julho, o Arquivo Público Municipal de Cubatão está às voltas com um tesouro. E como não poderia ser diferente, esse tesouro chegou ao arquivo dentro de um baú doado pela família do escritor Afonso Schmidt (data) com livros, cartas, cartões postais, correspondências, mapas, revistas e outros documentos que pertenceram ao autor.

De acordo com Francisco Torres, historiador do Arquivo Municipal, os técnicos do local já identificaram cerca de 20% do material: "Do pouco que a gente viu, já estamos muito contentes com os resultados. Um exemplo é um mapa de 1916 com a planta da região que estão se chamava Cubatão de Cima, sobre a qual havia um litígio entre a família Schmidt e a City of Santos Improvments, empresa concessionária de uma série de serviços no início do século. "Esta planta pode ajudar nos trabalhos do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Cubatão no levantamento dos limites da cidade ao longo do tempo", lembra o historiador.

Entre os livros, o baú continha a série de romances "A Comédia Humana", de Balzac, além de obras do próprio Schmidt publicadas pela editora Brasiliense ao longo da década de 50 e reedições do início dos anos 80, que serão enviadas para o acervo da Biblioteca Municipal. Entre os livros, uma raridade, uma edição de 1916 do poema "Lusitânia", do próprio autor, um eco de Schmidt a "Os Lusíadas" de Luiz de Camões. Há também textos datilografados e autografados pelo autor.

Já o material jornalístico reúne colaborações para a imprensa entre as décadas de 30 e 50, como as revistas Paulistania e Fundamentos, esta criada por Monteiro Lobato, além de trabalhos dirigidos pelo próprio autor, como a revista Horizontes do Mundo, sem contar que ele participou também da diretoria do Clube do Livro. Na revista Paulistania, ele escreve em 1936 sobre a queda de uma ponte em Cubatão e aproveita para contar a história da antiga ponte coberta. O texto é acompanhado por uma ilustração da antiga ponte publicada no livro "Brazil and the brazilians", de Fletcher e Kidder, de 1866. O material reúne também muitos exemplares do jornal O Estado de S. Paulo, para o qual Schmidt escreveu durante muitos anos, mas o material precisa ser recuperado antes de lido, já que as páginas estão bastante quebradiças.

Entre a correspondência recebida e guardada por Schmidt encontram-se cartas enviadas da Europa por intelectuais, revistas e editoras sobre a tradução e a recepção de sua obra nos países para os quais foi traduzida, o que dá para traçar uma geografia intelectual do alcance do autor cubatense. São cartas em russo ou em francês escritas desde Moscou (Rússia, então União Soviética), Praga (República Tcheca, então Tchecoslováquia) e Varsóvia (Polônia), sem contar a correspondência recebida de dentro do próprio Brasil. Uma curiosidade deste lote é um cartão postal escrito em esperanto, língua internacional criada no final do século XIX, de um congresso sobre a língua realizado em São Paulo em setembro de 1947.

Enquanto o levantamento do material continua, Torres anuncia os próximos passos em relação ao material: limpeza mecânica, separação de acordo com os conteúdos (cartas, documentos pessoais, jornais, livros, etc), restauro do que for necessário, catalogação e, por fim, digitalização do material para consulta púiblica.
Doação - A doação do material foi realizada em 4 de julho pelo neto de Schmidt, Sérgio Afonso, que mora em Praia Grande, a pedido de sua mãe, Vera, uma das filhas do escritor, que havia falecido há um mês. Sérgio Affonso conta que era desejo de sua mãe que o material fosse doado à Biblioteca Municipal para que ficasse disponível para a população da cidade. "São documentos da vida literária e política de meu avô. É uma alegria que esse material esteja agora disponível", conta o neto do autor.

Junto com o baú, ele entregou ao secretário de Cultura da cidade, Welington Borges, uma carta de Vera Schmidt escrita no final de 2011, na qual revela o desejo de que o material ficasse em Cubatão: "Resolvi que o melhor lugar seria em Cubatão, a terra onde nasceu e que tanto amou! Estou aqui novamente sentindo aquela dor da despedida! É a segunda vez, meu pai, que vejo você partir. Partiu mas deixou aqui toda sua alma. Nesta caixa que eu denomino de Arca do Tesouro da Literatura brasileira e outros países!".

Emocionado após a leitura da carta, o secretário de Cultura agradeceu Sérgio Affonso pela iniciativa: "Queria fazer uma homenagem a Vera Schmidt pela atitude de ter guardado o material que agora é da comunidade de Cubatão. É um material riquíssimo, assim que estiver catalogado, colocaremos à disposição do público em forma de livro, de revista ou na internet".

Imagens: Henrique Ramos
20120814 - secult - Baú do Schmidt - AA
Alessandro Atanes
MTb 650/96 DRT-MT

Nenhum comentário:

Postar um comentário